Jornalista da TV Globo lança livro sobre Aparecida

20/09/2014 22:47

                   

RODRIGO

Na contracapa, os editores capricharam com um rasgado elogio: "Este é o livro mais completo sobre o maior símbolo da fé católica brasileira, com informações inéditas, frutos de pesquisas realizadas no Brasil e no exterior ao longo de três anos pelo jornalista Rodrigo Alvarez, correspondente da TV Globo em Jerusalém". Se o livro não fosse tão bem escrito, o comentário soaria presunçoso em demasia. Ainda que inéditas e bem documentadas, há informações em trabalhos sobre a história de Nossa Senhora Aparecida, realizados pelos Redentoristas nos últimos três séculos que, sem comparação, possuem muito mais fôlego e nem por isso esses livros são chamados de "mais completos".

As 239 páginas são deliciosas para quem gosta de jornalismo literário com leveza, profundidade e bom humor. E, por isso, aos olhos de um leitor da Congregação, as peripécias do padre Izidro de Oliveira, por exemplo, podem não ser consideradas problemáticas, porque mesmo que discutíveis, o autor confessa que só ouviu um dos lados da história e foi justamente o lado que não simpatizava com o confrade. Morto em 2011, depois de um longo período de enfermidade, esse grande homem da Congregação não conversou com o autor que o acusa de querer ser "dono" da "santa".

As referências feitas nos livro a outros confrades são simpáticas e mesmo no meio de uma imensa mistura de diocesanos, beneditinos, redentoristas e a todos chamando, muitas vezes, de "freis", título normalmente aplicado aos franciscanos e insistindo, da primeira `a ultima página em chamar Nossa Senhora de "santa" ou "santinha", a leitura nem chega a ser difícil para quem tem mais informações internas da Igreja. E fique claro que não falta conhecimento ao autor sobre a particularidade da santidade de Maria e do modo mais comum de chamá-la de "Nossa Senhora". Ele deliberadamente, escolhe de chamá-la deste modo. Outra coisa: as passagens em que ele esclarece o culto mariano e de imagens, além da comparação da pesca milagrosa dos Evangelhos com a do Rio Paraíba poderiam ser consideradas apressadas, mas perdoáveis, o único brevíssimo aceno que não se pode perdoar é aquele no qual o autor diz que um dos discípulos de Cristo é o fundador da Igreja Católica. Isso não. É pesado. Qualquer católico, por mais indigente que tenha sido sua formação sabe que a Igreja foi fundada por Cristo e não por Pedro.

Os 35 capítulos são interessantes, ainda que os três últimos, sobre os papas, sejam excessivamente curtos e sem o mesmo esmero nos detalhes presentes naqueles capítulos que nos mostram o ambiente presente na relação do Estado com a Igreja durante os tempos da Colônia, do Império e da República. A relação do papa "gente boa" - entenda, Francisco - com Aparecida também tem referências excessivamente rápidas em se tratando de um fato tão atual. O autor explica numa nota, mas para quem conhece o Seminário Santo Afonso e o "Colegião", atual Seminário Bom Jesus, não dá para entender bem quando é  um lugar e quando é o outro na sua história. Uma última consideração: apesar de existir uma frase que "salva" a verdade histórica afirmando que, a certa altura do tempo, a sede da missão dos bávaros foi transferida de Goiás para São Paulo, ficou pouco claro o que esta explícito nas "Crônicas da Fundação da Missão de Goiás e São Paulo" que o grupo original viria somente para Goiás, mas por causa de um pedido insistente do bispo de São Paulo, no mesmo período, a turma foi repartida pela metade. Os alemães que foram para Goiás, em 1894, foram cristianizar a Romaria do "Barro Preto", lugar que muito mais tarde, se tornou Trindade, localizado a 18 quilômetros de Goiânia, em Goiás.

 

O livro "Aparecida - A biografia da santa que perdeu a cabeça, ficou negra, foi roubada, cobiçada pelos políticos e conquistou o Brasil" é da Editora GloboLivros, foi lançado em Goiânia no dia 14.09.2013

Pe. Rafael Vieira, CSsR