''Se tirarmos os pobres do Evangelho, não entendemos a mensagem de Jesus''

20/01/2015 11:39

 

Andrea Tornielli
Vatican Insider
16-01-2015
Papa Francisco preside Celebração Eucarística nas Filipinas
Catedral da Imaculada Conceição, Manila 
Sexta-feira, 16 de Janeiro de 2015
 
Francisco, na homilia na missa em Manila celebrada com bispos, padres e seminaristas: "Eles são o coração do evangelho". Família e matrimônio são "cada vez mais sob ataque de forças poderosas que ameaçam desfigurar o plano criador de Deus". E depois abraça as crianças de rua.

 

"Os pobres estão no centro do Evangelho, são o coração do Evangelho. Se os tirarmos do Evangelho, não podemos entender a mensagem de Jesus Cristo..."Francisco tira os olhos do texto preparado da homilia e improvisa, em inglês, poucas palavras, para lembrar o que ele já repetiu várias vezes durante os quase dois anos do seu pontificado: a atenção aos pobres não é uma categoria sociológica, mas está ligada ao essencial da mensagem evangélica.

 

A catedral de Manila, dedicada à Imaculada Conceição, e considerada a "mãe de todas as igrejas das Filipinas", é a oitava versão da igreja construída com bambu e folhas de palmeira em 1581. Ao longo da sua história, foi repetidamente devastada por tufões, incêndios, terremotos, bombardeios.

 

A construção atual, que remonta aos anos 1950, foi fechada ao culto em 2012, para trabalhos de restauração por causa do terremoto, e foi reaberta este ano. Na sua chegada, o papa foi acolhido por um grupo de crianças vestidas como guardas suíços.

 

Na homilia da missa, refletindo sobre o Evangelho do dia, que fala das perguntas feitas por Jesus a Pedro: "Tu me amas?", o papa começou citando esta frase: "Tu me amas?". E os presentes imediatamente responderam em alta voz: "Yes!". "Thank you very much...", respondeu, sorrindo, Francisco.

 

O papa dirigiu um primeiro pensamento aos pastores das gerações passadas, que "se esforçaram não só para pregar o Evangelho, mas também para forjar uma sociedade inspirada na mensagem evangélica da caridade, do perdão, da solidariedade ao serviço do bem comum". "O nosso ministério – explicou Francisco – é um ministério de reconciliação. Proclamamos a Boa Nova do amor, da misericórdia e da compaixão sem fim de Deus."

 

"A Igreja nas Filipinas – disse Francisco – é chamada a reconhecer e combater as causas da desigualdade e da injustiça, profundamente enraizadas, que mancham o rosto da sociedade filipina, em claro contraste com o ensinamento de Cristo. O Evangelho chama cada cristão a viver uma vida honesta, íntegra e comprometida com o bem comum. Mas também chama as comunidades cristãs a criarem 'círculos de honestidade', redes de solidariedade que possam se estender na sociedade para transformá-la com o seu testemunho profético."

 

Depois, o papa acrescentou de improviso as palavras sobre os pobres no Evangelho. E continuou com um apelo aos bispos e sacerdotes a serem testemunhas autênticas: "Como podemos proclamar a novidade e o poder libertador da cruz aos outros se justamente não permitimos que a Palavra de Deus agite o nosso orgulho, o nosso medo de mudar, os nossos compromissos mesquinhos com a mentalidade deste mundo, a nossa mundanidade espiritual?".

 

Francisco pediu que os pastores "vivam de modo a refletir a pobreza de Cristo, cuja vida inteira foi centrada em fazer a vontade de Deus e em servir aos outros. A grande ameaça a isso, naturalmente, é cair em um certo materialismo que pode se insinuar na nossa vida e comprometer o testemunho que oferecemos. Só tornando-nos, nós mesmos, pobres, eliminando a nossa autocomplacência, poderemos nos identificar com os últimos entre os nossos irmãos e irmãs".

 

Por fim, o papa convidou em particular os jovens padres e seminaristas a estarem presentes "em meio aos jovens, que podem estar confusos e abatidos", e "perto daqueles que, vivendo em meio a uma sociedade sobrecarregada pela pobreza e pela corrupção, estão desencorajados, tentados a abandonar tudo, a deixar a escola e a viver nas ruas".

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Papa Francisco com crianças de rua em Manila, Filipinas


O papa deixou a catedral a bordo de um pequeno carro popular preto. Pouco antes, perto da catedral, ele encontrou um grupo de 300 meninas e meninos pobres resgatados da rua e da prostituição pela fundação Anak-TNK (www.anak-tnk.org), uma ONG ligada à Igreja e fundada por um jesuíta francês, difundida em muitos países do mundo.
 

O cardeal Luis Antonio Tagle, em setembro passado, havia entregue a Francisco mil cartas escritas pelas crianças de rua e um vídeo: elas lhe pediam que ele fosse encontrá-las. E ele aceitou, embora a visita não tenha sido inserida no programa oficial. O encontro ocorreu no pátio. Muitos dos presentes abraçaram Francisco e lhe entregaram pequenos presentes.

 

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto.